PIX ENTRA NA MIRA DOS EUA POR POSSÍVEL IMPACTO EM EMPRESAS AMERICANAS E CONCORRÊNCIA COM O DÓLAR

Outra novidade será o Pix em garantia. (Imagem: Divulgação)
(Imagem: Divulgação)

O Pix, sistema de pagamentos instantâneos criado pelo Banco Central do Brasil, está oficialmente sob investigação por parte do Escritório do Representante de Comércio dos Estados Unidos (USTR). A informação foi confirmada nesta quinta-feira (18), quando a agência norte-americana anunciou uma apuração sobre políticas comerciais brasileiras que, segundo o governo dos EUA, estariam prejudicando empresas e tecnologias americanas.

No centro da discussão está o papel duplo do Banco Central como regulador do setor financeiro e, ao mesmo tempo, operador direto do Pix — que é gratuito, público e utilizado massivamente por consumidores e empresas brasileiras desde 2020. O USTR afirma estar monitorando o mercado de pagamentos do Brasil para garantir condições “equitativas” de competição.

A investigação foi solicitada pelo presidente dos EUA, Donald Trump, e engloba também alegações de que o Brasil teria promovido ataques a empresas de mídia social norte-americanas, além de práticas comerciais consideradas desleais. O principal dirigente do USTR, Jamieson Greer, citou especificamente o estímulo ao uso do Pix como uma das motivações para a apuração.

Preocupações comerciais e concorrência direta

O temor dos Estados Unidos, segundo especialistas, está na capacidade de o Pix representar uma ameaça direta a empresas americanas que atuam no setor financeiro e de tecnologia, como bandeiras de cartão de crédito e aplicativos de pagamento, incluindo o WhatsApp Pay.

Em 2020, a Meta (dona do WhatsApp) anunciou que o Brasil seria o primeiro país a receber a função de transferência de dinheiro via aplicativo. No entanto, poucos dias após o lançamento, o Banco Central e o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (Cade) suspenderam o serviço. A justificativa foi a necessidade de avaliar riscos à concorrência e ao funcionamento do Sistema de Pagamentos Brasileiro.

“A operação não estava integrada ao sistema financeiro nacional, o que fere regras brasileiras de controle de transações”, explicou a economista Cristina Helena Mello, da PUC-SP. Segundo ela, o Pix proporcionou maior inclusão financeira, com agilidade e sem custos para o usuário, tornando-se uma ferramenta de interesse público.

Pix movimentou R$ 26,4 trilhões em 2024

Em apenas um ano, o Pix já movimentou mais de R$ 26 trilhões, consolidando-se como o principal meio de pagamento no Brasil. Com isso, passou a concorrer diretamente com métodos tradicionais dominados por empresas estrangeiras, além de ser usado em algumas transações internacionais, funcionando como alternativa ao dólar.

A economista vê com preocupação a tentativa de interferência externa. “O Brasil desenvolveu uma solução própria, eficiente e alinhada com os princípios de concorrência e inovação. O Pix é um modelo que inclusive vem sendo copiado por outros países”, avaliou Mello.

Resposta brasileira ainda não foi divulgada

A Agência Brasil informou que procurou o Banco Central e o Ministério das Relações Exteriores para comentar a investigação do USTR e as implicações para a política econômica e digital brasileira. Até o momento, não houve retorno oficial.

A última vez que o Pix foi citado de forma explícita por autoridades dos EUA foi em um relatório do próprio USTR, em 2022. Desde então, o sistema financeiro brasileiro continuou a ser monitorado, mas sem menções diretas. Agora, com o lançamento formal de uma investigação, o caso pode ganhar contornos diplomáticos mais tensos, envolvendo não apenas o setor financeiro, mas também as relações comerciais entre os dois países.

Por: Wesley Souza

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