DEMOLIÇÃO DE PAVILHÃO NA BARRETO CAMPELO EXPÕE DESIGUALDADES E MÁS CONDIÇÕES DO SISTEMA PRISIONAL EM PERNAMBUCO

Imagem: Rafael Vieira/DP Foto

A demolição do pavilhão B da Penitenciária Barreto Campelo, em Itamaracá, realizada nesta sexta-feira (19), revelou as precárias e desiguais condições vividas pelos detentos antes da desativação da unidade, ocorrida em fevereiro deste ano. Durante a derrubada da estrutura, vieram à tona celas improvisadas, objetos pessoais e sinais de privilégios que evidenciam problemas estruturais e de gestão no sistema penitenciário pernambucano.

O bloco demolido possuía 38 celas. Algumas delas estavam subdivididas de forma improvisada, lembrando cortiços, para comportar mais presos do que sua capacidade original. Outras destoavam completamente do padrão comum nas prisões brasileiras: tinham piso e paredes revestidas com cerâmica e azulejo, além de equipamentos como suporte para televisão. O contraste entre as celas indicava desigualdade no tratamento dos detentos e possível influência de lideranças internas.

Durante a remoção dos escombros, também foram encontrados itens como preservativos, lubrificantes, cola de sapateiro (usada como droga inalante), sabonetes, bíblias, além de anotações de dívidas entre presos e pichações com referências a facções criminosas.

“Cela do chaveiro” e práticas extintas

O secretário de Administração Penitenciária e Ressocialização de Pernambuco, Paulo Paes, comentou que muitas das condições observadas no pavilhão estavam ligadas a práticas antigas, que, segundo ele, já não existem no atual modelo de gestão prisional. Entre elas, destacou a existência da chamada “cela do chaveiro” — um interno que detinha responsabilidades e certa autonomia dentro da unidade, figura que o governo afirma ter sido abolida do sistema.

Um passado de superlotação e violência

A Penitenciária Barreto Campelo foi desativada oficialmente em abril, com a retirada de cerca de 460 detentos. A decisão se deu devido às precárias condições estruturais e à reestruturação do sistema prisional do Estado. A unidade acumulava denúncias graves ao longo dos anos, incluindo superlotação, falta de segurança e episódios de violência.

A visita à antiga penitenciária marcou o reencontro de ex-detentos com um passado difícil. Um deles foi Manoel João da Silva, 55 anos, que cumpriu parte de sua pena na unidade. Ele esteve preso por dois anos e dois meses na Barreto Campelo, sendo libertado em 1994. “Esse lugar foi o pior que já passei. Tem coisas que prefiro nem lembrar”, afirmou Manoel, que foi condenado por homicídio e passou oito anos no regime fechado.

Futuro incerto para o terreno

Com a demolição iniciada, o governo de Pernambuco estuda a nova destinação da área onde funcionava a penitenciária. A expectativa, segundo a gestão estadual, é que o espaço — localizado em uma região de valor ambiental e turístico — seja requalificado para atividades voltadas ao turismo. Um projeto para o terreno, que possui centenas de hectares, deve ser apresentado nos próximos meses.

Enquanto a definição oficial não é anunciada, a demolição da Barreto Campelo representa não apenas o fim de uma unidade carcerária marcada por violações, mas também um momento de reflexão sobre as mudanças ainda necessárias no sistema penitenciário brasileiro.

Por: Wesley Souza

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